Entrevistamos o arquiteto Renato Mendonça e a artista plástica Calu Fontes, que falaram sobre como o revestimento artístico pode ganhar diversas interpretações, inclusive como obra de arte. Confira!
Por Ivan Dognani
Os azulejos sempre estiveram ligados à arte, seja na paginação das históricas construções ou servindo como tela para artistas plásticos e artesãos pincelarem tanta criatividade. Antes bastante utilizados em ambientes molhados, agora passam a integrar projetos residenciais e corporativos. Vão além de trazer a herança artística e a memória afetiva presente nos revestimentos, assumindo um protagonismo e sendo colocados, até mesmo, como obra de arte no décor. As peças ganharam cores e muita originalidade com as novas interpretações e design presentes em cada padrão. Muitos ainda se perguntam como ambientar e harmonizar os azulejos artísticos. Para entender melhor as formas de uso e todo conceito criativo presente nesse tipo de produto, o Connectarch conversou com Renato Mendonça, arquiteto e apresentador do programa Te Devo Essa (do qual a Eliane Revestimentos é parceira) e do 24h Pra Redecorar, no Discovery Home And Health, e com a artista plástica Calu Fontes, que já assinou coleções para a Decortiles.
Por que e como usar revestimentos artísticos?
Para Renato, o revestimento artístico exige um lugar só seu e deve ser tratado como algo especial, sem concorrência e sem conflito, para que esteja em harmonia com a casa. “O excesso de informação, textura ou cores pode tirar a importância e destaque da peça”, analisa. Esse tipo de produto retorna com força ao mercado e inspira muitos lançamentos das grifes cerâmicas. Segundo o profissional, antigamente eles foram muito utilizados e tiveram um hiato de desuso, substituídos por materiais não tão decorados e mais lisos, talvez até frios, em suas palavras. “Hoje, entendo que nossa vida precisa de mais acolhimento e isso pode ser representado ou adquirido através do uso de materiais que nos tragam informação e lembranças”, diz.
Os locais de instalação podem ser diversos, de paredes decorativas a frontões e até mesmo cabeceiras ou como peça de decoração. Renato gosta de utilizar em grandes áreas, pois acredita que traz ainda mais valor ao espaço e ao acabamento. “Esse tipo de material é capaz de transformar um projeto quando é pensado e utilizado de maneira adequada. Traz destaque, história, textura e cor. Expressa o cuidado com a superfície e a personalidade da família!”, ressalta.
Reconhecida internacionalmente pelo seu trabalho artesanal, a artista plástica Calu Fontes é apaixonada por cerâmica. Ela já assinou diversas coleções para a Decortiles e acredita que esse tipo de produto chegou para ficar. “Basta ver nas feiras de design e nos projetos nacionais e internacionais. São materiais que podem ser mais trabalhados, mais clean, mais desenhados. Eles estão por todo lugar!”, ressalta.
Segundo a artista, o avanço tecnológico também é primordial para ascenção e sucesso desses produtos. Os novos recursos agregam muito para a produção em escala industrial. “Temos hoje uma impressão das estampas com altíssima definição, o que proporciona ao artista e às marcas explorarem um leque de possibilidades em texturas e cores”. Para ela, todos ganham com isso, os artistas – por conseguirem concretizar a ideia e intensão de desenho tão fielmente nas peças; os arquitetos – que podem explorar paginações exclusivas e ousar; e principalmente os clientes – que terão muita beleza e qualidade nos revestimentos.
“Não tenho um local de aplicação que eu goste mais que outro. Gosto de me surpreender com os usos e paginações que os arquitetos, designers e clientes encontram”, diz a artista. A maioria dos revestimentos artísticos das coleções assinadas por Calu proporciona inúmeras formas de paginação. Dessa forma, arquitetos e profissionais de interiores podem criar também novas composições para as peças. “É uma criação primeiramente minha no ateliê e depois no projeto ou na obra pelos arquitetos e decoradores”, completa.
Design e processo criativo fazer parte da escolha
O processo criativo de um produto artístico e praticamente artesanal ocorre em diversas partes. Perguntado se leva em conta o que há por trás do produto Renato é enfático. “Conhecer como ele é feito, a ideia que está sendo passada é extremamente importante. Esse conhecimento valoriza ainda mais o produto e agrega valor ao projeto”, comenta. Pelas mãos de Calu, cores, formas e texturas transportam sensações, cultura e muita natureza para a superfície dos azulejos. “Meu processo criativo se dá após uma grande imersão no universo temático e quando chego em meu ateliê começo a criar inúmeras possibilidades”, conta.
Ela diz que seu processo de pesquisa antes de criar uma coleção é bastante amplo e pode incluir até passagens pela música, moda, cartelas de cores, poemas e percepções adquiridas numa visita a um museu, por exemplo. “Com essa bagagem fresca de referências e inspirações começo a desenhar e a escolher as cores. Nesse momento não fico presa a modismos e nem tendências, sigo minha intuição. Criar com o coração tem sido meu mantra na hora de desenhar!”, explica.
Calu acredita que muitos pontos podem levar um arquiteto a especificar um revestimento artístico e que todo esse contexto é levado em conta. “Trazer um diferencial para o projeto, conversar com outras escolhas de materiais e acabamentos feitas por ele, sair do básico de alguns revestimentos existentes e, principalmente, trazer arte para a casa com peças assinadas por um artista que ele ou o cliente admiram são alguns dos motivos”, diz.
Solução, arte e infinitas possibilidades
Além do papel técnico nos projetos, onde eram vistos apenas como soluções para áreas molhadas, retenção de calor ou contenção de umidade, a desconstrução e utilização em áreas sociais, jardins, halls, lavabos, salas de banho, áreas gourmet, cozinhas e até mesmo quartos, percebe-se o patamar atingido pelos revestimentos artísticos. “Acho que essa desconstrução não foi só minha, mas de todos que, com o convívio maior com o revestimento artístico, passaram a vê-lo como outro item do projeto”, diz Calu.
Renato traça um paralelo com o gosto e o perfil do cliente, trazendo a personalidade da casa por meio desses materiais. Ele costuma dizer que o projeto é desenvolvido pelo seu escritório, mas o dono é o cliente, pois, é ele quem irá viver no novo espaço projetado e é ele quem precisa se identificar com aquilo. “Obviamente que tudo tem uma tradução e uma linha projetual genuína, mas as solicitações externas, assim como as necessidades, são discutidas e consideradas. Nesse caso, quando falamos de revestimento artístico, a personalidade do cliente será expressa em materialidade e isso exige responsabilidade e sensibilidade por parte do escritório”, complementa.
Novas necessidades estimulam o uso
Para os profissionais, as novas necessidades do morar e de trabalhar mais conectado à natureza e à arte, bem como tudo aquilo que é visto no universo lá fora, estimulam a utilização das peças artísticas das mais diversas formas. Calu Fontes analisa que estarmos mais em casa auxiliou numa percepção mais afetiva em relação ao espaço em que vivemos. “Não tenho dúvida de que aprendemos. Seja em nosso principal lugar de convívio com a família e os amigos e, em alguns casos, de trabalho, com a necessidade do home office. Queremos deixar a casa gostosa, trazer, quando possível, a natureza para dentro, transformar os espaços e fazer desse local o nosso ninho de acolhimento”. Ela finaliza dizendo que nesse momento, tudo que se refere a cor, textura, calor, natureza será muito bem aceito por todos.
Renato sintetiza dizendo que o que as pessoas estão buscando pode ser resumido em uma palavra: vida! “Com exclamação! É isso que as pessoas procuram hoje. E isso não significa necessariamente excessos ou cores vibrantes, significa sentimentos e sensações!”. Assim como Calu, o arquiteto acredita que levar arte e design para dentro de casa ou dos projetos em geral, agrega muito valor e que produtos artísticos também podem ser minimalistas e do agrado de todos os gostos.