Hotel flutuante: luxo em alto mar

Importantes grifes hoteleiras investem em hospedagem de luxo em alto-mar

Tudo começou há mais de 500 anos, quando Portugal saiu na frente de toda a Europa e desbravou os mares descobrindo novas terras, entre elas, o Brasil. Praticamente meio milênio depois, um novo negócio que também envolve grandes embarcações passou a navegar nos mares, mas esses, ao invés de transportar mercadorias, levam pessoas.

Um dos primeiros navios a realizar cruzeiros, o Titanic, já considerado um navio de luxo em 1912, tinha números impressionantes, para a época: 269 metros de comprimento, 28 metros de largura, capacidade para 3.327 passageiros, além da capacidade para transportar 45 mil toneladas. O navio tinha ambientes espetaculares para a primeira classe, como sala de ginástica, restaurante, quadra de squash, piscina e suítes exuberantes.

Hoje, os transatlânticos chegam aos espantosos 362 metros de comprimento, 66 metros de largura e podem levar cerca de nove mil pessoas. E de olho no sucesso por esse tipo de viagem, importantes bandeiras hoteleiras como Marriot, Four Seasons e Belmond estão investindo na categoria. Contudo, algumas bandeiras têm apostado em modelos menores onde podem oferecer o ápice do luxo para grupos seletos.

Um exemplo é o Evrima, primeiro cruzeiro de luxo do Ritz-Carlton, que oferece serviços ainda mais exclusivos, além de aportar em áreas de difícil acesso como ilhas gregas e praias francesas. Lançado ao mar em agosto de 2022, tem 190 metros de comprimento e acomoda até 298 passageiros que podem se dividir nas 149 luxuosas suítes, algumas com até dois andares e jacuzzis privativas.

Outra luxuosa rede hoteleira que acredita nesse ascendente mercado é o Four Seasons. A previsão é que os mares do Caribe e do Mediterrâneo – primeira rota programada – recebam o primeiro navio com seus 679 pés no final de 2025. Serão catorze deques e 96 suítes, além de piscina na popa, clubes de praia, base para esportes, cinco restaurantes e um deque especial para spa e cinema a céu aberto.

Um modelo menor, mas que não perde no quesito luxo e sofisticação, a bandeira Belmont que faz parte do grupo de luxo LVMH, oferece um exclusivíssimo serviço a bordo de um barco que comporta até seis hóspedes, e vai navegar na região de Champanhe, em viagens customizadas e inesquecíveis. 

Design de interiores

E, para fazer jus a todos os serviços, o design de interiores dos ambientes, das cabines principalmente, precisa estar à altura. O holandês Gerrit Jan, que há 22 anos desenvolve interiores de barcos, lá mesmo, na Holanda, conta que, no seu ofício, diferentemente das grandes embarcações, quem determina o que e como vai ficar, é o dono. “O cliente determina junto com um arquiteto o que quer e como quer as coisas.” Assim, cada projeto é único e, claro, dependendo do orçamento, ele conta que todos os tipos de materiais “exceto alvenaria”, brinca, podem ser usados na concepção dos interiores. Com habilidades em carpintaria, Gerrit explica que um dos grandes problemas em projetos tão customizados não é o tipo de material, mas seu uso incorreto. “É importante que o material seja medido e cerrado corretamente, pois são todos muito caros, como o mármore, por exemplo.”

A brasileira e yatch designer, Tania Ortega, faz coro à fala de Gerrit. “Cada embarcação é algo novo, pois tudo depende do seu tamanho, estrutura, cores, texturas usadas e, claro, entender as preferências do cliente, suas necessidades, gostos, condições. Tudo que é usado num projeto náutico é muito específico, e isso parte desde a madeira, os tecidos, os revestimentos, a movelaria até produtos adequados para resistir a maresia e ao sol que, nesse caso, o ideal é especificar somente tecidos outdoor para o estofado externo e interno. Hoje possuímos tecidos de alta performance e tecnologia e existem até mesmo os que não esquentam tanto quando expostos ao sol”, revela Tania, que, ao longo de mais de 30 anos atuando no mercado náutico, segundo ela, já perdeu as contas de quantas embarcações assinou.

E com tantos anos no segmento, casos com pedidos no mínimo ‘curiosos’, têm aos montes. “Certa vez, uma cliente optou por uma embarcação ‘animal print’. Tive que ambientá-la com tecidos que reportassem ao mundo animal, como oncinha, zebra, tigre. Foi um projeto inusitado! Mas realizei o desejo da cliente de uma forma bem elaborada, tornando seu exótico desejo em algo leve e elegante. Outro cliente não dispensou o uso de sua escultura de cavalo (grande) no salão de sua embarcação, assim como outro que queria um barco emblemático com seu time: o Corinthians. Nesse caso, toda a decoração foi feita em branco e preto.

Também já fiz um trabalhando com as cores da bandeira da Itália, em verde, vermelha e branca. Enfim, tantas solicitações exóticas, mas temos sempre que atender aos desejos dos clientes e trazer suas ‘estranhas’ sugestões acopladas ao nosso bom senso, criatividade, sensibilidade, para realizar seu pedido de forma leve, apresentável, bonita aos olhos, mesmo com as excentricidades”, finaliza Tania Ortega.

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