Michelle Prazeres, professora da faculdade Cásper Líbero com pós-doutorado em Comunicação e Semiótica, está à frente de um movimento que pretende chamar atenção para o ritmo de vida frenético na maior metrópole do país. O projeto começou em 2015 motivado pela transformação radical da relação de Michelle com o tempo após a chegada dos filhos. “O Desacelera São Paulo surgiu por estar vivendo menos acelerada. Então pensei – por que não contar para outras pessoas que estou passando por isso? Eu criei um mapa e ia marcando lugares, projetos, pessoas que estavam conectadas a esse estilo de vida. Foi assim que nasceu o Dia Sem Pressa, inspirado no festival da lentidão que já ocorre na Itália”, disse a fundadora da iniciativa.
A ideia é promover o bem-estar individual e coletivo, propondo novos modelos de cidade que privilegiam a saúde física e mental, a convivência afetiva e a luta contra a emergência climática. O projeto tem a Escola do Tempo que oferece formação e intervenção em culturas organizacionais para promover um relacionamento mais saudável com o tempo.
Michelle destaca que o objetivo do movimento Desacelera São Paulo é permitir que as pessoas tenham uma vida humana, com relações sólidas e cuidadosas, mesmo várias demandas. Ela enfatiza a importância de dizer “não” e de identificar o que é essencial, tanto para o indivíduo quanto para o grupo em que ele atua. Para a jornalista, o desacelerar não é sinônimo de lentidão, mas de encontrar um equilíbrio entre a velocidade e a pausa, criando uma relação mais consciente. “O professor Antônio Cândido fala que o tempo é o tecido da vida. Eu fui descobrindo que não adianta ter o controle porque é uma ilusão que temos”, enfatizou Michelle.
Por meio de suas intervenções em ambientes organizacionais, o Desacelera São Paulo busca criar culturas mais humanas, promovendo a transparência nos contratos de tempo e a franqueza nas relações de trabalho. “Não é a falta de prazos. Não é desregrado. Pelo contrário, é estabelecer com muita transparência esses limites. O que fazemos, tanto do ponto de vista individual quanto coletivo, é tirar as pessoas do automático. Há pesquisas que mostram que o cérebro precisa ter pausas, pois rende melhor do aquele que funciona de forma ininterrupta. As pessoas se sentem culpadas porque param para descansar”, explicou a jornalista.
Para finalizar, a jornalista ressaltou que o indivíduo deve analisar se a aceleração do tempo faz sentido. “Você pode correr circunstancialmente porque tem um prazo para cumprir. Não tem problema. Faz parte da vida adulta em que todo mundo paga boleto. O que não pode acontecer é estar acelerado assim para sempre porque seu corpo não vai aguentar. Essa não pode ser a regra”.
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