As infinitas nuances da cor azul, das que acalmam até as que energizam, estimulam comportamentos, e suas interpretações criativas vêm carregadas de significados
Por Jucelini Vilela
O azul, uma cor primária e fria, tem vários ‘significados’ que podem ser positivos ou negativos, de acordo com o livro “A psicologia das cores no Marketing”, de Cristiane Thiel. Segundo ela, o lado positivo indica inteligência, comunicação, eficiência, serenidade, entre outras características. Já o negativo pode suscitar indiferença, frieza e falta de emoção. Pelo sim ou pelo não, a autora concorda que é a cor preferida dos ocidentais, mas o Connectarch foi buscar mais referências de como o azul pode ser uma paixão do outro lado do mundo também.
Desde a antiguidade, mais que uma cor de destaque, o azul sempre teve grande importância. No Egito, a pedra lápis-lazúli, de um tom de azul profundo, era muito apreciada pelos faraós que adornavam com ela seus ornamentos e acessórios – muitos artefatos que utilizavam a rocha foram encontrados em túmulos faraônicos – e foi, inclusive, usada na máscara mortuária do mais importante rei do Egito de que se tem notícias: Tutankhamon (1341-1323 a.C). Um pouco mais próximo dos dias de hoje, já em 2015, lápis-lazúli foi considerada a pedra oficial da Museologia, pelo Conselho Federal de Museologia e é também a pedra nacional do Chile, país onde pode ser encontrada em boa quantidade. Mas, voltando para a África, mais especificamente para o Marrocos, há um tom de azul cuja história vale a pena ler.
Todo começou em um jardim. Localizado em Marrakech, conhecida como a cidade vermelha devido às construções em tom de terracota – dizem que se fossem brancas, a visão seria muito prejudicada pela grande incidência de luz solar, podendo até cegar – e por sua forte personalidade, no Marrocos, há o Jardim de Majorelle que traz esse nome por conta de seu criador, o pintor francês Jacques Majorelle. Em contato com o local pela primeira vez em 1917, o pintor se apaixonou pelo lugar e o adquiriu seis anos mais tarde, em 1923. Situado ao norte da Medina em Marrakech, Jacques solicitou ao arquiteto Paul Sinoir que construísse uma casa em estilo Art Deco, onde seria seu estúdio e residência, local esse onde ele criou um dos mais intrigantes tons de azul e que levaria seu nome para a posteridade, o azul Majorelle. Após sua morte, em 1962, o jardim entrou em declínio, mas foi ‘salvo’ graças à aquisição feita em 1980 pelo estilista Yves Saint Laurent e seu companheiro Pierre Bergé. Hoje, o lugar possui um museu, o Berbere, e está aberto para visitação com todo o esplendor do jardim e seu inigualável tom de azul.
Cidade Azul
É também no Marrocos um lugar fora do comum. Trata-se da cidade de Chefchaoen (ou Chaouan), mundialmente conhecida por ter todos seus edifícios e ruas azuis. Situada no meio das montanhas e embora tenha sido fundada em 1471, a cidade, que serviu de abrigo para o povo judeu fugido da inquisição espanhola, passou a ganhar a tonalidade azul em casas e ruas a partir 1492 pelas mãos dos exilados. Por lá, contam que os judeus teriam pintado ruas e casas de azul em alusão aos diversos objetos sagrados do Velho Testamento tingidos nessa cor, ao mesmo tempo que outras versões explicam que o azul ajudava a espantar os mosquitos. Independentemente da proteção que se buscava, fato é que a cidade é uma das mais fotografadas no Marrocos e recebe milhares de turistas de todas as partes do mundo, todos os anos.
CASACOR SP 2022
Em celebração aos 35 anos da mais completa mostra de arquitetura, design de interiores e paisagismo das Américas, um dos ambientes merece atenção. Assinado por Marcelo Salum, o espaço é uma homenagem ao casal de designers Attilio Baschera e Gregório Kramer e traz uma paleta forte, viva e com muito…azul. “É minha cor predileta, seja o claro ou o escuro. Por mais que seja fria, aquece meu coração e é uma cor com a qual eu adoro trabalhar, acho sofisticada”, conta Marcelo.
Em sua terceira participação em CASACOR SP, Salum trouxe uma atmosfera predominante nos anos 1970, na qual o espaço está permeado de vida, por meio dos objetos e tecidos do acervo pessoal da dupla e, para isso, foi preciso um mergulho nessa riquíssima história, como conta o arquiteto. “Não tive relação pessoal com eles, mas além de suas vidas estarem conectadas desde sempre com a mostra, pude conhecer o Attilio, por quem desenvolvi ainda mais admiração, e foi quando consegui ter mais ligação, conhecer melhor a vida de ambos.”
Ele conta que o projeto, totalmente inspirado neles e na sua história, foi um grande desafio. “Mas, foi igualmente uma grande responsabilidade assinar um espaço de pessoas que são ovacionadas e sinônimo de bom gosto e refinamento. Para mim, uma grande realização ao ver as pessoas que visitam se emocionar ao adentrar o ambiente. Posso dizer que estou muito feliz e realizado com esse trabalho”, finaliza Marcelo Salum.
Assista ou ouça o podcast que o Connectarch gravou exclusivamente com Marcelo Salum contando detalhes de sua trajetória e de seu projeto para a CASACOR 22.
Cento e onze tons de azul
Segundo o livro “A psicologia das cores” de Eva Heller, existem 111 tons de azul nomeados. Inspirador, o azul e suas tantas variações é aplicado nos mais diversos tipos de produtos, de objetos de decoração, passando por tecidos e mobiliário, até os mais diferentes tipos de revestimentos. Para as temporadas de 22 e 23, uma tonalidade que chama a atenção é o Cobalto Galático. Proveniente de um estudo feito pela marca Decortiles, a cor é derivada do mundo digital e apresenta alto impacto. É um tipo de azul ‘elétrico’, com um apelo atraente que chega ao mundo físico, como um presente visual, por meio de uma ousadia saturada, potente e vibrante.
A Decortiles explorou em sua última coleção a profundidade dessa tonalidade com o Lazúli da linha Color Mind, Tecela Cobalto, Folhas Cobalto, Trama Cobalto e Quadra Cobalto, todos da série Artesan.