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Publicado por Connectarch

Duração 6 MIN

Data de publicação 11/04/2025

Fuorisalone 2025: design entre as ruas de Brera e Alcova

Brera e Alcova revelam o espírito mais experimental, poético e provocador da Semana de Design de Milão

Enquanto os pavilhões da Fiera de Rho se enchem de lançamentos grandiosos e marcas consolidadas, é nas ruas de Milão que o design mostra sua alma mais livre, sensível e instigante. No Fuorisalone 2025, os bairros de Brera e Alcova se destacam, mais uma vez, como os principais locais dessa efervescência criativa, abrindo portas para experiências imersivas que chamam atenção de todos os visitantes.

Brera: onde o design encontra a arte e a poesia da luz

Passear por Brera durante a semana de design é como atravessar um museu a céu aberto em constante movimento. Ruas de paralelepípedo, fachadas centenárias e galerias históricas ganham novas camadas com instalações que exploram a sensorialidade e o impacto emocional do design contemporâneo.

Library of Light por Es Devlin | Foto: ©Monica Spezia

Neste ano, um dos pontos mais procurados é a instalação cinética na Pinacoteca di Brera, assinada pela artista britânica Es Devlin, conhecida como a “poeta da luz”.  Parte da Euroluce, a profissional transformou o Cortile d’Onore, pátio interno do século XVII, em uma escultura giratória monumental de 18 metros de diâmetro, feita com estantes iluminadas contendo 3.200 livros.

Library of Light por Es Devlin | Foto: ©Monica Spezia

Inspirada por uma citação do escritor Umberto Eco, "Os livros são a bússola da mente",  a obra convida o público a um mergulho entre luz e sombra, palavra e arquitetura. Durante o dia, o espelho angular no topo reflete a luz solar sobre colunas e estátuas antes invisíveis à luz direta; à noite, a estrutura iluminada projeta sombras coreografadas nas paredes, revelando novos gestos em um espaço histórico.

Alcova: o tempo como matéria-prima

Do outro lado da cidade, Alcova continua a expandir seu território — tanto físico quanto simbólico — dentro do Fuorisalone. Conhecida por ocupar espaços abandonados com design contemporâneo, Alcova apresenta quatro locais distintos, cada um com seu próprio universo poético.

Instalações em Alcova | Foto: © Piergiorgio Sorgeti

As estufas Pasino, que um dia foram lar de uma das maiores coleções de orquídeas da Europa, ganham nova vida como cenário para instalações em diálogo direto com a natureza. As estruturas de vidro, inundadas de luz natural, revelam uma simbiose rara entre o orgânico e o artificial — uma metáfora viva para o que o design pode ser no mundo de hoje.

Já a antiga fábrica da SNIA, marco do racionalismo italiano, oferece um contraste brutal e poderoso. Sua chaminé industrial e fachadas geométricas recebem exposições que investigam materialidade, processos fabris e inovação, sem deixar de reverenciar o passado. 

Completando o roteiro, as já conhecidas Villa Bagatti Valsecchi e Villa Borsani retornam como palcos privilegiados para instalações específicas. Nessas residências históricas, o design junta-se a uma curadoria sensível e envolvente.

Design como experiência sensível

Former SNIA factory | Foto: Marco Guastalla

O que une Brera e Alcova nesta edição é a atmosfera disrruptiva: mais do que objetos ou lançamentos, o que está em cena é o modo como o design nos faz sentir. Através da luz, tempo e história, os projetos apresentados nesse circuito expandem a noção do que significa projetar hoje.

Se o Salone del Mobile é a vitrine, o Fuorisalone é o laboratório. E é nele que o design se mostra mais humano, alinhado ao nosso desejo contemporâneo de pertencer, tocar e imaginar.