
Publicado por Connectarch
Duração 14 MIN
Data de publicação 01/07/2022
Quando a Arquitetura encontra a Arte
Icônicos e atemporais, projetos arquitetônicos são marco para eventos e se tornam ambientes de permanência e experiência
Por Jucelini Vilela
O sucesso de um grande evento pode estar ligado ao repertório de quem o organiza, mas também depende de muitos outros fatores, entre os quais, o lugar onde será realizado. Eventos magistralmente grandes como shows de bandas internacionais, por exemplo, requerem lugares que, obviamente, comportem os fãs com o mínimo de segurança. O mesmo acontece com outros eventos, até os menores e para públicos específicos. E é aí onde a arquitetura entra. Decidir por espaços adequados, coerentes e, não menos importante, bonitos – melhor ainda se tiver uma ‘pitada’ de relevância histórica –, é condição sine qua non para a maioria, mas, principalmente, para o universo das artes plásticas. É nessa seara que algumas das principais feiras de arte se apropriam de lugares cuja arquitetura, em sua maioria emblemática, oferece mais uma provocação estética aos seus visitantes, sendo um deleite para olhos e alma.
Para tanto, há de se destacar, e agradecer, os grandes mestres da arquitetura que presentearam a humanidade com seus belíssimos e funcionais projetos. Falando em belo, vale citar uma passagem do livro “Arquitetura da Felicidade” – editora Rocco/2016, de Alain de Botton que diz que o design remete à lembranças e aproximações, mas que leva, também, à percepção de memórias sobre fatos ou, até mesmo, desperta sensações. Para ele, "dizer que uma obra de arquitetura ou design é bela é reconhecê-la como uma interpretação de valores fundamentais para o nosso desenvolvimento, uma transubstanciação de nossos ideais individuais num meio material".
E, com base no belo e funcional, podemos relativizar o casamento perfeito entre a arquitetura do pavilhão Ciccillo Matarazzo, mais popularmente conhecido como Pavilhão da Bienal, e a feira anual de artes plásticas SP-Arte. Localizado dentro de um dos maiores parques públicos de São Paulo, o edifício assinado pelo gigante brasileiro da arquitetura, Oscar Niemeyer (1907-2012), abriga a feira de artes desde sua primeira edição em 2005 e é, além de um marco na história do modernismo do país, um local de bom gosto, elegância e, acima de tudo, essencial, como conta a idealizadora e diretora da feira, Fernanda Feitosa. “Desde que nasceu, a SP-Arte escolheu o Pavilhão Ciccillo Matarazzo para ser a sede principal de seus eventos. Fundamental na história do modernismo brasileiro, o pavilhão é uma obra-prima de Niemeyer inaugurada em 1957.” Ao mesmo tempo, ela explica que experimentar novos espaços é algo do qual não abre mão. “A Arca, que sediou a SP-Arte em 2021 e onde acontece nossa próxima feira ‘Rotas Brasileiras’, em agosto (2022), é um galpão industrial construído nos anos 1960 que abrigou uma grande metalúrgica. Hoje, ele serve como um polo para economia criativa nesse novo eixo da cidade que vem se formando em torno da Vila Leopoldina: um prolongamento da avenida Faria Lima que estende por toda a margem direita do Rio Pinheiros até o Ceagesp, em uma área que concentra produtoras de cinema e startups.”



O Pavilhão da Bienal abrigou na 18º edição do evento a última realizada de 6 a 10 de abril, 133 galerias de arte e design e recebeu cerca de 25 mil pessoas, além da imprensa nacional e internacional.
Não é só futebol
Pela primeira vez, a feira de arte ArPA, uma feira de arte desenvolvida para as galerias do Brasil, com o objetivo de atrair o público especializado das cinco regiões do país, assim como para formar novos colecionadores e apreciadores de arte, aconteceu de 1 a 5 de junho no Pavilhão Pacaembu, espaço localizado no Complexo Pacaembu – um dos maiores estádios de futebol da cidade –, com entrada pela Praça Charles Miller e tem, entre seus objetivos centrais, expandir a arte nacional por meio de uma nova experiência e agregar colecionadores de todo o país, gerando novas oportunidades para galerias e possibilitando conexões com o cenário internacional, segundo a idealizadora, Camilla Barella. “A ArPa nasce de um diálogo direto com as galerias, e entender suas necessidades e demandas é a nossa meta." A feira recebeu mais de 45 expositores - do mercado primário e secundário -, e contou com estandes destinados a jovens galerias, mas também de artistas já consolidados no circuito das artes que puderam comercializar suas obras no espaço de 4 mil m².
Para facilitar a fruição do público e criar recortes mais detalhados para cada segmento contemplado pela feira, a ArPa subdividiu o evento em algumas seções. Os setores Principal, UNI e Satéliteaconteceram no Pavilhão. O Arte em Campo,com entrada gratuita, estava localizadona Praça Charles Miller, antes da entrada do Complexo Pacaembu. Já o programa Prisma foi criado como uma forma de expandir os limites da feira e difundir o conhecimento em outros espaços e instituições da cidade. Vale citar a participação de importantes nomes do cenário cultural de galerias de arte que marcaram a primeira edição do evento no setor Principal, como Almeida & Dale Galeria de Arte (São Paulo, SP); Galeria Raquel Arnaud (São Paulo, SP); Galeria Bolsa de Arte (São Paulo, SP; Porto Alegre, RS); Casa Triângulo (São Paulo); DAN Galeria (São Paulo, SP); Gomide & Co (São Paulo, SP); Mendes Wood DM (São Paulo, Brasil; Bruxelas, Bélgica; Nova York, EUA); Galeria Marília Razuk (São Paulo, SP); Simões de Assis (São Paulo, SP; Curitiba, PR); Galeria Vermelho (São Paulo, SP); VERVE Galeria (São Paulo, SP); Galeria Ybakatu (Curitiba, PR); Zipper Galeria (São Paulo, SP), entre tantas outras.




"O Pacaembu é um parceiro da ArPa, pois faz parte do projeto da concessão e de retomada deste espaço com seus pilares originais, de cultura e lazer. A estrutura atual funcionará até o final de 2023, quando o novo Pacaembu ganhará um espaço permanente para eventos no subsolo. Nesta primeira edição da ArPa, além do uso do Pavilhão Pacaembu, também recebemos o público por meio de uma exposição a céu aberto, com esculturas e instalações, na praça Charles Miller”, reforça Camilla Barella. O local é, também, um dos lugares ‘queridinhos’ dos paulistanos. Aos 80 anos, o Pacaembu, que em tupi-guarani significa ‘Terras alagadas’, – originalmente um local de descanso para os índios em suas viagens junto a um ribeirão coberto de vegetação – tem no seu estilo Art Déco a assinatura de Ramos de Azevedo e foi tombado pelo CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, responsável pela pesquisa, identificação, proteção e valorização do patrimônio cultural paulista – em 1998. Vale ressaltar que à época de sua inauguração como Estádio Municipal, foi considerado o maior e mais moderno estádio da América do Sul, perdendo seu posto dez anos mais tarde para o estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.


Ares cariocas em Sampa
Em março último, a capital de São Paulo recebeu a primeira edição da ArtSampa, feira de arte que ocupou o pavilhão Lucas Nogueira Garcez, mais conhecido como OCA, também de Oscar Niemeyer, entre os dias 16 a 20. O evento reuniu cerca de 50 expositores, entre galerias e instituições, em mais um simbólico projeto da cidade paulistana. O edifício é um espaço expositivo com mais de 10mil m² dentro do Parque Ibirapuera e foi projetado em 1951 a fim de compor o conjunto arquitetônico do parque em celebração ao IV centenário da cidade de São Paulo.



O evento é realizado pelos mesmos sócios da ArtRio, Brenda Valansi e Dream Factory. “A ArtSampa trouxe para a capital paulista os valores e metas que construímos ao longo de nossa jornada. Queremos, cada vez mais, estimular um mercado sério e ético para o segmento da arte, reconhecido internacionalmente por suas melhores práticas. Chegar a São Paulo no ano do centenário do movimento modernista é muito emblemático. Temos como compromissos a valorização da arte brasileira, o estímulo a novos artistas e o reconhecimento da arte como forma de expressão da sociedade e sua cultura”, pontua Brenda Valansi, presidente da ArtRio.
E, pegando carona na fala de Fernanda Feitosa, pode-se dizer que “essa ponte que a arquitetura nos ajuda a traçar entre uma herança do passado moderno e um futuro pungente, pulsante e muito criativo para o Brasil é o que mais nos interessa", arte e arquitetura seguem se entrelaçando, criando oportunidades únicas para seus visitantes e abrindo o horizonte de todos que vivenciam, adentram e podem experienciar esse universo do belo enquanto “esplendor da ordem”, como disse Aristóteles (384 a.C.-322 a.C), um dos grandes pensadores da antiguidade, ou como o disse Platão (428 a.C.-347 a.C), igualmente outro importante pensador “o belo é o bem, a verdade. É a perfeição.”
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